segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

D. Carolina e Bonitinho

D. Carolina realizara, enfim, o seu desejo, a sua ambição de mulher gasta: possuir um amante novo, mocinho, imberbe, com uma ponta de ingenuidade a ruborizar-lhe a face, um amante quase ideal, que fosse para ela o que um animal de estima é para seu dono - leal, sincero, dedicado de sacrifício.
Aleixo remoçava-a como um elixir estranho, milagrosamente afrodisíaco. Sentia-se outra depois que se metera com o pequerrucho: retesavam-se-lhe os nervos, abria-se-lhe o apetite, entrava-lhe na alma uma extraordinária alegria de noiva em plena lua-de-mel, toda ela vibrava numa festiva exuberância de vida, numa eclosão torrencial de felicidade - o corpo leve, o espírito calmo... Aleixo pertencia-lhe, enfim; era seu, completamente seu; ela o tinha agora preso como um belo pássaro que se deixasse engaiolar; tinha-lhe ensinado segredinhos de amor, e ele gostava imenso, e jurara nunca mais abandoná-la, nunca mais!
O grumete, por sua vez, experimentava o que experimentaria qualquer adolescente - uma tendência fatal para a portuguesa, um forte desejo de possuí-la sempre, sempre, a toda hora, uma vontade irresistível de mordê-la, de cheirá-la, de palpá-la num frenesi de gozo, num grande ímpeto de novilho insaciável.
Bom Crioulo - Adolfo Caminha (1867-1897)